“O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros.”
— Blaise Pascal
A ideia de ser incapaz de viver a vida como ela é me assombra. Afinal, a partir de quando isso se tornou uma questão em minha vida? Não é fácil precisar em qual momento isso se deu, mas tive que me render.
Considerando o fato de que ninguém é totalmente capaz de encarar o pacote da vida – tédio, tristeza, angústia e vazio – pois a verdade mais profunda é insuportável e o mundo nos proporciona meios de aliviar a existência a todo o momento, a vida boa requer uma significativa quantidade de sabedoria. A questão mais irritante… Opa! Quero dizer, importante, é que o problema ficou maior quando percebi que o segredo não era como lidar com a vida e sim como lidar comigo mesmo.
Não tenho dúvidas de que o desespero, a ingratidão, o ressentimento, a autocomiseração, o pessimismo, a incapacidade de tomar decisões e de se relacionar, a carência afetiva, a baixa autoestima, vida interior empobrecida, a insegurança e a impulsividade, de maneira caótica ou organizada, aleatória ou sucessiva, nos levam à crise das crises que é a perda do sentido da vida, daí a necessidade de um conjunto de ferramentas poderosas para vencer isso e viver da melhor maneira possível.
A vida se apresenta igualmente para todos, a forma como reagimos é que faz a diferença, e a primeira atitude que devemos ter é criar a consciência de nossa autorresponsabilidade criticando a si mesmo. Ao invés de dar murros em ponta de faca, seria mais sensato usá-la para abrir novos caminhos e fazer diferente.
A programação de recuperação tem várias sugestões tiradas da filosofia estoica que consiste no refinamento do caráter através de práticas simples de mudança de hábitos. A ideia de um Poder Superior serve para sairmos do nosso ego e colocar Deus como o centro, mas isto requer um treinamento gradual e exige toda nossa potência psíquica. Se seguíssemos a sequência proposta pelos quatro livros sapienciais, teríamos:
- Aceitar que os que vieram antes sabem mais do que nós (Provérbios);
- Saber que tudo é vazio e vaidade fora de Deus, ou seja, tudo é somente pela Sua graça (Eclesiastes);
- Aprender que a medida da felicidade é um enigma (Livro de Jó);
- Que Deus está no detalhe e para chegar ao gozo com o mundo temos que sair do lugar do ressentimento (Cântico dos Cânticos).
De certa forma, o que somos é, em grande parte, fruto de nós mesmos. Aprender a adequar nossas satisfações ao mundo externo é tarefa para uma vida inteira e não existe receita pronta. O mais importante é a pergunta cuja resposta está dentro de você. A revelação é só uma parte, o restante cada um terá de encontrar por conta própria.
As perguntas nos movem. Qual é a sua?
— por Kleber da Cruz