Ex-acolhido que se tratou conosco compartilha sua experiência de vida e jornada de recuperação.
Olá, me chamo P.C. sou um adicto (dependente químico e/ou alcoólatra) em recuperação, tenho 34 anos. Sou casado e tenho dois filhos. Vou estar relatando um pouco como foi minha degradação no uso de drogas e o que venho fazendo para me manter limpo SPH.
Venho de uma família desestruturada de pai e mãe, e desde pequeno eu presenciei meu pai abusar e humilhar muito minha mãe, ele um alcoólatra e dependente químico. Desde pequeno me sentia diferente de amigos e colegas da escola, pois fui uma criança que cresci meio “jogado” uma hora criado pela avó, uma hora um tio ou uma tia, enfim não tive estrutura familiar. Desde pequeno, nunca me senti parte de nada, e fazia questão de buscar aceitação de todos, me tornando assim alguém que eu não era.
Por ser uma criança sem limites, foi muito fácil conhecer a rua e as noites… Me recordo que quando conheci algumas pessoas no bairro em que morava, sentia que eles eram diferentes de mim, me gerou uma curiosidade, logo descobri o álcool e as drogas, a malandragem enfim… tudo aquilo foi muito sedutor, preencheu o vazio que sentia na infância, estava apenas com 12 anos e andando com pessoas mais velhas do que eu. Me aceitaram naquele grupo, em meio de drogas e coisas erradas. Nenhum deles tinham responsabilidades, isso me atraia pois nunca gostei de ter, e meus comportamentos também nunca foram os melhores. Quanto mais me envolvia com esses caras, mais eu gostava e fui deixando de lado estudo, família, meus valores e dignidade para trás, pois criei um personagem que não era eu, um “malandro”, mas que na realidade era um moleque cheio de inabilidades em lidar com o mundo e se aceitar por si só.
Vivi esse personagem durante 21 anos, e quanto mais tentava me afastar do monstro que havia criado, mais eu entrava no buraco, tudo o que tentava fazer fracassava, pois a droga e álcool não me permitiam viver, estava em uma prisão sem grades. Mesmo assim com o passar da vida, conheci uma garota especial, o amor da minha vida. Essa trajetória do relacionamento foi bem complicada, pois quando uso a substancia consigo acabar com os sonhos de todas as pessoas que estão a minha volta. Essa moça de nome K. sofreu muito ao meu lado, passou noites e noites em claro me esperando, pois no uso quando começava ficava dias usando.
Nos casamos! Um casamento completamente desestruturado, eu não conseguia ser responsável com nada, mas no meu autoengano achava que o casamento seria algo que iria me livrar das drogas, minha primeira filha nasceu em 2009, mais um motivo para eu achar que com esse acontecimento na minha vida, sairia das drogas. Ilusão, pois no dia no nascimento, eu estava dentro do banheiro do hospital usando, até me entristeço quando lembro desse fato, pois não senti realmente a alegria de ver ela nascer, estava lá, porém drogado.
Minhas tentativas foram diversas para parar com as drogas, religiões, promessas, mudanças geográficas, tudo o que tentava não dava resultado. No ano de 2010, estava já uns dias na rua usando e vi uma placa em uma igreja escrito “PROBLEMAS COM DROGAS, nós podemos ajudar!“, havia encontrado os NARCÓTICOS ANÔNIMOS. Fui a uma reunião, conheci, falaram que eu era a pessoa mais importante naquela reunião me deram um café e um abraço, e disseram que se eu quisesse parar eles podiam ajudar. Levantei a mão na terceira tradição para o ingresso, mas no fundo vi que realmente não tinha o desejo de parar de usar, só queria não perder o casamento e um trabalho que tinha. Meus esforços não foram muitos significantes para me modificar…
Neste mesmo período, estava usando muita droga, achava que eu não era um adicto e não tinha problemas com a adicção, minha família decidiu me internar, foi quando tive o primeiro contato com o Instituto Casa Dia São Paulo. Cheguei em novembro de 2010, para um tratamento de 6 meses, me informaram que eu era portador de uma doença, chamada adicção, tudo aquilo era muito confuso, pois ainda acreditava que conseguia lidar com uso de substancias que alterassem minha mente e meu humor. Dentro do tratamento fiz minhas melhores amizades, que prezo até hoje. Foi onde também conheci meu padrinho uma pessoa que me ajuda até hoje a viver, posso dizer que dei início a minha jornada de recuperação através do tratamento do Instituto Casa Dia São Paulo, que salvou minha vida e vem salvando até hoje a de muitos outros companheiros.
Quando terminei o período de internação, me foi sugerido que eu frequentasse as reuniões de Narcóticos Anônimos, para manter minha recuperação e dar continuidade ao tratamento. Mais uma vez não fiz o que foi sugerido, fiquei um período limpo e voltei a fazer as coisas do meu jeito, usando meus velhos pensamentos. Tive um processo muito árduo para me manter limpo, algumas recaídas e até mesmo a desistência de continuar limpo. Em 2015 voltei para NA, e resolvi fazer diferente, comecei a frequentar as reuniões, servir a irmandade e realmente me empenhar no meu processo de recuperação. No ano de 2016, Deus me agraciou com meu segundo filho, tive a oportunidade de ver meu filho nascer, desta vez limpo. Tenho uma dificuldade muito grande de manter a minha vida, família, filhos, trabalho e recuperação.
Achei que podia me afastar da irmandade e voltar a pensar e agir com meus velhos pensamentos, pois já estava há 2 anos, 2 meses e 25 dias limpo, em recuperação, mas a doença da adicção mata humilhando pois é a doença do autoengano, e a partir do momento que eu deixo de me aceitar, volto ao uso. Graças a Deus, minha família, ao Instituto Casa Dia São Paulo, e Narcóticos Anônimos, consegui sobreviver a recaída e estou novamente limpo e me mantendo em recuperação. Sendo um pai, um marido, um filho e um membro produtivo da sociedade, tenho um trabalho, faço faculdade, levo hoje o alimento para os meus filhos e esposa. Está bem nítido na minha mente que sou dependente da irmandade de Narcóticos Anônimos para viver, continuo voltando as reuniões pois os melhores momentos da minha vida, foi quanto fiquei sem o uso de drogas.
Os 6 meses iniciais de tratamento, me deram toda a base e estrutura que precisava para viver uma vida limpa e saudável, por isso sou muito grato ao Instituto Casa Dia São Paulo, pois se não tivesse me internado em 2010, jamais estaria vivo hoje, contando minha história para vocês. Muitas das vezes perdi a batalha, mas não perdi a guerra, há sim vida após a droga, então se você tem ou não problemas com drogas, ou conhece alguém que tenha, há esperança. E vou fazer o que for preciso para me manter limpo.
P.C. – 26-02-2018
O nome está abreviado
para manter o anonimato.