Já foi dito em algum lugar que nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos. No fundo todos queremos ser aceitos como somos. Reconhecemos que todos nós temos segredos que fazem parte de nossas vidas e de nós mesmos, mas tememos compartilhar essas coisas com medo do que alguém possa pensar.
Realmente, ser aceito não pode acontecer para alguém que não deixar pelo menos uma pessoa saber exatamente quem ela é. Para o dependente químico que deseja uma recuperação mais rica, o melhor caminho agora é encontrar uma pessoa que faça com que ele se sinta seguro em contar seus segredos mais sombrios, alguém que tenha lhe prometido que, o que quer que ele confessasse, nunca seria revelado a ninguém. Sermos aceitos é uma das razões de necessitarmos fazer o quinto passo.
Fazer tudo sozinho em assuntos espirituais é perigoso, é fácil se iludir, então, se feito corretamente, o processo de admissão fará com que o dependente ganhe uma compreensão mais clara de quem e o que ele realmente é seguido de uma tentativa sincera de se tornar aquilo que ele pode ser. O poder da confissão já é conhecido por terapeutas e padres. A doença da dependência química anda por debaixo de nossa pele como um cacho de abelhas dentro de uma garrafa tampada com nosso polegar. É como carregar uma sensação de que existe algo dentro de nós que é perigoso e que pode nos ferir, temos que escolher continuar estancando na ilusão de que sairá naturalmente, ou tirarmos a tampa e colher o mel. Os segredos morrem à luz da exposição, nenhum milagre será capaz de nos tirar essa sombra a não ser admitindo sua natureza exata a nós mesmos, a Deus e a outro ser humano. A admissão é outra razão para praticarmos o quinto passo.
Se falharmos na limpeza de nossa casa tentando carregar o peso secreto sozinhos, isto, provavelmente, acarretará em um acréscimo de medo, irritabilidade, remorso, ansiedade e depressão, e, quando nos sentimos assim, sabemos que nosso cérebro estará procurando um pouco de alívio. Não precisamos ir longe para sabermos que as drogas sempre foram nossa opção favorita para descarregar as tensões internas.
Um fator importante é que devemos colocar tudo no papel, ou seja, por escrito. Apenas desabafar oralmente nossos sentimentos não repercutirá em longo prazo. Nossa vida psíquica é composta de conteúdos e afetos. Cada pessoa interpreta os fatos da vida de uma maneira muito pessoal. Isto se baseia em nossas crenças e valores a respeito dos fenômenos da vida de acordo com as informações que temos e com a experiência vivida. Por isso é que, em uma dada situação, pessoas diferentes reagem e sentem coisas totalmente diferentes. Para que uma verdadeira catarse ocorra em nossas mentes e corações, ressignificando crenças distorcidas e velhos valores, devemos reunir simultaneamente uma expressão emocional honesta e uma autorreflexão profunda. Isto é impossível de se alcançar se não tivermos tudo por escrito.
Quando estamos sobrecarregados pelo estresse que o quinto passo pode causar, vibramos em uma frequência baixa tornando-nos vítimas de vozes internas punitivas, impulsos primitivos, emoções progressivas e imagens perturbadoras que se configuram nos sonhos e nas memórias. Nessa hora não podemos nos esquecer de mantermos nosso contato com o Deus de nossa compreensão e de partilharmos essas dificuldades. Temos que ter coragem de praticarmos o quinto passo ou guardaremos tudo em uma gaveta e, novamente, perderemos a batalha para um dos nossos piores inimigos: a procrastinação.
Portanto, verifique se você fez um quarto passo completo, talvez você tenha deixado algo de fora ao escrever que você deseja incluir agora, e, quando estiver satisfeito com sua escrita do quarto passo, sem segredos, selecione aquela pessoa especial que faça você sentir-se seguro para compartilhá-lo, e desfrute das graças de estar em recuperação.
— por Kleber da Cruz